Sob a luz
quarta-feira, 24 de março de 2010
SOB A LUZ
Sob a luz
segunda-feira, 8 de março de 2010
E AGORA!
E agora!
Já não tenho casa,
Já não tenho Fátima,
Só há criticas
Que me engolem,
As mentiras
Foram contadas,
O acerto
Foi errado,
E eu não existo
Mais em mim.
E agora!
Pensam que sou louco,
Pensam que estou morto.
Vigiam minha janela
E tudo mais que
Por ela passa...
Não importa se no
Véu da noite,
Ou se no escuro da moita,
Olhos criminosos queimam
Línguas, serpentes,
Víboras e Bípedes rastejantes,
Incrédulos sem amor.
E agora!
Que nada mais funciona
Que nada mais me consola
Que o desrespeito me isola...
O que faço em meu exílio?
Sem eixo, me queixo sem resposta...
E agora!
sábado, 6 de março de 2010
LENDA DO CORAÇÃO
Dois corações
Voavam juntos,
Certo dia
Pelo embate
Da longa jornada
Diz um:
“vamos pousar?”
Sem pensar e solidário
O outro concorda
De imediato.
O primeiro escolhe seu
Repouso sob uma rosa branca,
A idéia era que quando
O outro sobrevoasse o jardim
Facilmente a identificaria.
As horas passaram
E quanto mais passava
Mais se desejava ficar.
A rosa branca com suas
Pétalas aveludadas
Rubras se tornaram
Misturando – se a cor
Do coração adormecido.
O outro agora descansado
Sobrevoou o jardim,
Uma vez, duas vezes, logo depois
Mais uma vez e mais uma,
Varias vezes e lá de cima
Não encontrou sua metade;
Surgiu o primeiro coração partido.
As rosas, agora rubras, multiplicaram
Com a esperança de um dia ofertada
Encontre novamente o coração
Que partiu amargurado.
Se você vires uma rosa vermelha
Não pense e de imediato oferte-a
A seu amor perdido ou esquecido
Seja solidário você poderá esta
Realizando um encontro mitológico
De um amor perdido.
Malcy Negreiros
Sou Maria
Eu sou Maria...
De Zefinha,
De Eduardo,
De mãe preta do leite,
Da canjiquinha,
Dos nove filhos,
De mãe solteira.
Maria da cozinha,
Do bordado, da feira,
Da rede.
Maria da solidão, do açoite,
Da surra, da humilhação,
Do sangue no chão.
Maria de Maria,
De sexo fácil, forçado,
No empurrão.
Maria...
Maria dos cegos,
Dos cafetões,
Dos 12 anos,
Das terras, do barro.
Maria de outras Marias,
Maria Mulher,
Maria Rosa,
Maria Fulôr,
Maria de um único amor,
Maria e só Maria
Eu sou.
Malcy Negreiros
sexta-feira, 5 de março de 2010
Quem Me Dera!
quinta-feira, 4 de março de 2010
Alma
Para não mais
Abri-los.
Tranco-me
Neste escuro sombrio,
Desfaço-me da luz,
Das cores,
Das asas que me destes.
Como doe sentir
Minhas lágrimas
Banhar o jardim que
Outrora era tão cheio
De ti.
Eu que era
Sua fonte dos desejos
Perdidos,
Agora sou rosa
Despetalada;
Apenas
Cravos brancos
Acompanham-me.
O frio da manha
Ensolarada me reveste,
Arranca de meu
Féretro corpo
A alma que te amou,
Que te sorriu,
Que te beijou,
Que um dia viveu.
Malcy Negreiros
Tortamente Reta
Tudo está torto
Como árvore seca
Do serrado
Madeira que vira lenha
Lenha que vira carvão
Que aquece e depois
Vira cinzas
Cinzas que o vento
Leva e espalha no campo
Brisa suave em um dia quente.
O tempo nos engana
Hora ele é longo
Ou curto.
É diferente para cada um que o
Observa.
É como a Razão
Que é amiga da insensatez
E o torto torna-se apenas
Um acaso no meio de uma reta.
Ninguém vê
Porque já se nasce torto.
A venda nos olhos só
Permite-nos vê,
O que os nossos olhos
Nos permite.
E a isso chamam de tradição,
Esquecem que há corações
Que bombeiam o mesmo líquido
Vermelho que correm nas veias
De qualquer um que se diga humano.
Paixões, pulmões, braços,
Abraços, todos caminham
Pela mesma estrada torta
Das leis retas,
Só nos cabe retirar a venda
Se crermos que há caminhos tortos
Para se percorrer,
Não que as faremos retas,
Mas que transformaremos em aliadas
Para desviarmos dos buracos,
Buracos que são
Outro capítulo da mesma caminhada
Torta que vivemos.
Malcy Negreiros
Meu Peito
Por ter sido ele transpassado
Pela lança que cala as multidões.
Dói e escoa pelas ruas
Em silêncio,
Como fuxico de comadres.
Dói como a verdade
De seus olhos
Que queima minha alma,
Apaga meus sonhos,
E engrandecem meus algozes,
Esses que às escondidas
Desejam ver as lágrimas
Como rios vorazes.
Dói meu peito
Como em qualquer peito
Que não pode amamentar
Seu fruto,
Como qualquer língua
Que deseja se soltar em gritos
Como qualquer desejo de amar.
Dói acovardado em sigilo,
Preso pela ignorância
Do saber, do proteger.
Dói e chora pelas
Fardas Rasgadas
Pelas bandeiras Levantadas,
Pelas trincheiras agora rasas.
Dói meu peito,
Dói por amar
Algo que não mais existe
Em seu coração.
Lamentos
As vezes sou rocha,
As vezes sou água,
Sou vento que toca
Os grãos do trigo.
Na noite
sou penumbra,
No dia
Sua sombra.
Não há norte ou sul,
Meu leste descansa
Bem ao oeste de meus
Devaneios,
Sou folha que cai,
Sou tempo que se esquece,
Ao meu lado apenas
Memórias.
Deixo os segundos
Me enganar
Para fingir que ainda
Sou eu que te engana...
Durma e desperte
Meus sonhos, meus desejos
Pois eu continuo sendo
Apenas eu em seu mundo.
Malcy Negreiros